quinta-feira, 10 de junho de 2010

A morte é cinza e amarela


Quando abaixei, pretejou, esbranquiçou, apagou.
Meu peito queimava, saía pela boca.
Era um enfarte, logo percebi. Gritava alto, mas ninguém me ouvia.
Ligaram no hospital, pediram uma ambulância. Ela demorou a chegar.
Já era tarde. O hospital estava cheio. Emergências para todos os lados.
Quando disse que estava morrendo, me ouviram.
Acordei. Não me sentia. Me olhei.
Não tinha braços, não tinha pernas, não era eu. Uma cobra, talvez.
Se enganaram. Me operaram errado.
De enfarte fez-se bactéria.
Uma última dor. Não acreditava.
Desliguei os aparelhos.
Aos poucos tudo foi se tornando cinza e amarelo.
Eu feliz. Morri em paz.

Carolina Souza

2 comentários:

Pri t. disse...

deu pra sentir, fantastico!

Anônimo disse...

Nossa como vc está obscura!! Mas gostei...
Monica Quadro